Quase 2 meses aqui

Cá estou quase completando 2 meses. Na verdade, minhas impressões não mudaram quase nada. O que acontece é que estou ficando mais experiente, obviamente. Vim sem experiência nenhuma para um Spa 5 estrelas que é nada menos que o maior de todos os navios do mundo. Um pouco arriscado, eu diria. Não aconselho para todos, não. É preciso ter certeza que nada vai te abalar psicologicamente como brigas, broncas e ameaças do manager (gerente), reclamações de clientes, ameaça de demissão por parte das pessoas mais importantes do navio, etc etc.Eu vim para cá com a certeza de que este trabalho era exatamente o que eu queria havia muito tempo. Graças aos meus maravilhosos pais, tive a oportunidade de viajar diversas vezes em cruzeiros. Conversava mais com a tripulação do que com os próprios passageiros. Fazia diversas perguntas sobre a vida no navio.Então vim com a certeza que queria trabalhar aqui, ainda mais no Spa, como massoterapeuta! Entrei num time de 20 pessoas de várias nacionalidades, experiências, idades e valores.
Temos diversos tipos de tratamentos no Spa, com preços vem variados também. A massagem mais barata e simples custa 99 euros. A massagem mais cara custa 229 euros e é feita numa sala especial, que é concedida somente a terapeutas experientes, no 2º ou 3º contrato. Entretanto, meu manager reconheceu minha habilidade em venda e auto-promocão e me concedeu essa sala. Fiquei bem feliz, mas a responsabilidade é grande demais. Erros não têm lugar aqui, por menores que sejam. Um deslize e puf, adeus sala. O bom é que ganhamos em porcentagem de serviço, então, é com esse tratamento que ganhamos mais. Temos que manter uma porcentagem de 35% de tudo em vendas. É bem difícil, ninguém no spa está conseguindo fazer. Italianos mão-de-vaca!
Os franceses são bem fáceis de trabalhar, são uns fofos educados e compram bem. Já os italianos...mamma mia. Personalidade meio difícil de lidar e compreender. Eles falam alto, forte e são secos. No começo me assustei um pouco, mas percebi que é cultural mesmo. Falando em italiano, até que estou conseguindo me virar aqui. Só com palavras-chave, claro. Massaggio, testa, schiena, spalla, mani, piedi, tratamenti, avere bisogno, essere. Aprendi a conjugar verbos básicos, etc. Mas claro que não estou feliz com isso. Tanto é que pedi pra trocar de cabine. Eu estava na cabine da minha melhor amiga do spa, uma francesa. Pedi pra mudar para a cabine de uma italiana cuja sanidade mental eu desconfio seriamente. Ela parece aqueles personagens de desenho, ou mesmo aquela loira patricinha e burra de Beverly Hills, que diz coisas sem sentido. É engraçado, mas logo chegarei no meu limite de paciência hehe.
A cada dia aqui, um cliente diferente. Aliás, vários, Tenho tido clientes com todos os tipos de situações de saúde. Que tiveram AVC, problemas cardíacos, cujo marido morreu 2 semanas atrás, depressivos, com alzheimer, câncer terminal, e até umas fofas que tenho vontade de levar pra casa. Estou com uma cliente finlandesa quase da minha idade, toda tímida, que fez uma massagem normal comigo. No final, quando a levei para tomar um chá na *casa de chá japonesa*, fui me despedir e ela pediu pra eu dar um abraço nela. Super fofa. Resultado: acabei marcando todos os tipos de massagem pra ela, as mais caras do spa e provavelmente amanhã vou vender um pacote de produtos pra ela. É bom, mas não é isso que me importa. O que me importa é alguém que tirou 100% de proveito do meu serviço, que relaxou tanto que depois disse que estava no paraíso, que foi a sensação mais maravilhosa que já sentiu. Ouvir isso de quase todos os clientes meus esquenta meu coração de uma forma que me faz saber que os meus dias aqui estão valendo a pena. Que estou alcançando o objetivo da minha vida de trazer o bem-estar às pessoas e de ajudá-las na medida do possível. Claro que aqui tem todo um padrão a seguir. Mas ainda assim, sempre dá pra adaptar no meu jeitinho.
Estou comendo demais aqui no navio. Macarrão e batata todos os dias! O problema é que como muito e depois de 2h tenho fome de novo. Estranho, né? Vai saber os conservantes que colocam nessa comida... Não quero nem saber.Ainda tenho dormido mal, de tão preocupada com o trabalho e com medo de chegar atrasada.
Em 3 semanas meu manager tudo-de-bom vai embora e vai dar espaço à uma romena famosa por ser completamente inflexível e restrita. Legal, né? (Oh, to sendo sarcástica, tá? Eu sei ser, às vezes).Só sei que se eu tiver alguém na minha orelha me falando toda hora o que fazer, vou ter problemas. Estou crescendo demais aqui, do jeito que está. Outro detalhe na vida a bordo é a alta rotatividade da tripulação. Todos os dias há gente chegando e indo embora daqui. É bem triste, na verdade. Pessoas que você vê e conversa todo dia que vão embora e você não sabe se vai voltar a vê-la. Pessoas que chegam e parece que você conhece há anos.

Aqui tem altos e baixos, momentos felizes e tristes. Cabe a você escolher o que vai focar. A maioria das pessoas aqui só reclama de tudo e não vê a hora de voltar pra casa. Eu me pergunto o que eles fazem aqui. Desculpa de ganhar dinheiro, para mim, não é valida.Na verdade, é isso que não entendo nas pessoas. Por que fazer o que não gosta por dinheiro? Para depois gastá-lo no que gosta? Por que não o faz diretamente?

Minha experiência aqui está sendo tão válida que eu poderia fazer quase de graça. Mas não, faço o que amo, e por consequência, faço bem e ganho bem por isso. Aqui no Spa é fácil ver quem gosta e quem não gosta do trabalho. Só ver quanto ganharam no final da semana. O quanto se empenharam, o quanto se doaram para cada cliente. Meu manager ganha um absurdo de dinheiro, porque ele ama o que faz e diz que acorda todo dia querendo trabalhar. Ele nunca fala Não para ninguém, tira toda e cada dúvida de todos. Sorri e cumprimenta cada cliente que vê. Ele é o nosso ídolo. Todos querem mudar para o navio que ele vai trabalhar hihihi.Tenho a impressão que se eu escrever mais uma linha nem minha mãe vai ler isso aqui.Ah, e viu, passem esse site para todo mundo que me conhece ou que quer saber como é a vida no navio, por favor.Mãe, faz o pai ler isso aqui, ok? Já que nunca consigo falar com ele nem com ninguém aí no Brasil. Pai, um dia te convenço a usar a internet!!!

Saudades de todos
=)

Denise